Dízimo: partilha de amor ou negociata com Deus?
Quando eu era criança, um tio meu me levou para participar de um culto em sua comunidade evangélica. Logo após a exibição de um filme medonho sobre o Apocalipse (tinha mais sangue do que no “Casamento Vermelho” de Game of Thrones), o pastô (que merecia mesmo era pastar) ameaçou o pessoal:
– Vocês viram o que aconteceu com os infiéis no Apocalipse? Vocês querem escapar desse fim horrível?
De olhos esbugalhados, todos acenavam que sim com a cabeça, ou gritavam angustiados. O pastô continuou:
– Então, prove sua fé e oferte agora aqui no altar o valor X em dinheiro (eu não lembro qual era a moeda na época, se era Cruzeiro, Cruzado... Mas era um valor alto, algo equivalente a uns R$ 50,00). Quem vai fazer a oferta, fique de pé! Quem não vai fazer, fique sentado!
E assim o pastô dava um jeito de constranger e humilhar publicamente os coitados que não tinham tanto dinheiro para dar. Além desta, outra técnica ainda mais eficaz para arrancar gordas doações dos fiéis é pregar que Deus vai lhe dar muita prosperidade e bênçãos materiais, em troca de sua generosidade no dízimo. Esse é o modo de agir de muitas das seitas que pregam a demoníaca Teologia da Prosperidade. As pessoas mesquinhas, gananciosas ou simplesmente desesperados por causa de suas dívidas caem nessa história como patinhos!
Na Igreja Católica, não é assim. Porém, justamente por ser um chamado à liberdade de cada fiel, muitos católicos não estão nem aí para o dízimo. Em quase todas as paróquias, a proporção de dizimistas em relação ao número de fiéis que frequentam a paróquia é ridiculamente baixa.
A maioria das pessoas gosta mesmo é que lhe ponham um cabresto, gostam de uma religião que lhes faça passar vergonha diante dos outros “irmãos”, caso não ande na linha, em troca da promessa de evitar a cruz e viver o Céu aqui na Terra. É por isso que ouvimos tanto protestante dizer: “Eu era católico, mas naquele tempo eu bebia, eu vivia na farra, eu traía, eu fazia tudo errado”. E desde quando a Igreja Católica aprova tais pecados, criatura joselita? O fato é que no meio evangélico é comum que um fique tomando conta da vida do outro, então todos se esforçam para ter uma aparência externa de santidade.
Mas o cristianismo é a religião que reina no mais profundo da consciência, no coração. Cristo mostrou que muitos daqueles que tinham aparência de santidade – os fariseus – eram podres por dentro. Então, mais do que simplesmente falar em fidelidade ao dízimo, vamos falar das intenções do coração.
É bem verdade que, na Bíblia, Deus promete prover as necessidades materiais de quem paga o dízimo. Isso se chama fé na Providência divina. Mesmo que esteja meio dura, a pessoa faz um sacrifício para ajudar os pobres e sustentar a Igreja (lembram da oferta da viúva?). A pessoa é fiel ao dízimo, confiando que o Senhor lhe ajudará.
"Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência – diz o Senhor dos exércitos – e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário.” (Mal 3,8-9)"Já por duas vezes mandastes para Tessalônica o que me era necessário. (...) Estou bem provido, depois que recebi de Epafrodito a vossa oferta: foi um suave perfume, um sacrifício que Deus aceita com agrado. Em recompensa, o meu Deus há de prover magnificamente a todas as vossas necessidades, segundo a sua glória, em Jesus Cristo." (Fil 4,16-19)
Bem diferente da fé na Providência é o investimento no FIJ – Fundo de Investimentos de Jesus. A pessoa paga o dízimo com a intenção de que o senhor multiplique o seu patrimônio. Como se Jesus vindo ao mundo, tomado bofetão no rosto e sido crucificado para nego poder ficar rico!
Então, devemos ser fiéis ao dízimo por uma consciência prática e por amor, não porque estamos caçando bênçãos.
A consciência prática nos fazer perceber que o padre, exclusivamente dedicado aos fiéis (foi para isso que ele deixou de casar, não é mesmo?), não vive de vento, e precisa de seu salário. Da mesma forma, é preciso cobrir as despesas com luz, água, funcionários, obras de manutenção do templo e ações evangelizadoras da paróquia, entre outras despesas.
O amor nos leva a ter verdadeiro prazer em DEVOLVER parte do dinheiro que Deus nos deu para o próprio Deus.
E qual porcentagem dos meus ganhos mensais devo doar ao templo? Você é quem decide. Não há obrigação de pagar 10%. Até nisso a Igreja nos deixa livres! Mas lembre-se: Deus sabe se estamos sendo generosos em nossa oferta ou não.
MENORES DE IDADE DEVEM PAGAR O DÍZIMO?
O dízimo é uma contribuição de quem tem renda própria, fruto de seu trabalho. Se um menor de idade trabalha (alguns, com 14 anos, já trabalham e têm renda mensal), então é justo que pague o dízimo, ainda que seus pais paguem também.
Mas se não trabalha, não precisa pagar o dízimo. Pode fazer uma contribuição livre na cestinha ou nos cofres do templo de sua paróquia, se puder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário